COMO CONSEGUIR MEDITAR? PSICÓLOGO DE HARVARD, O ESCRITOR DANIEL GOLEMAN ENSINA OS CAMINHOS ATÉ PARA OS MAIS RESISTENTES

  

O escritor Daniel Goleman, autor de 'Por que meditamos?'
O escritor Daniel Goleman, autor de 'Por que meditamos?' Divulgação

Como conseguir meditar? Psicólogo de Harvard ensina os caminhos até para os mais resistentes

No livro ‘Por que meditamos’, Daniel Goleman defende que a meditação deixa o corpo mais calmo, tornando a mente mais clara para entender melhor o mundo e tomar decisões mais acertadas

Por Constança Tatsch — São Paulo

11/06/2023 04h30  Atualizado há uma semana

Atualmente, muito se fala sobre a meditação e seus benefícios. A prática, no entanto, parece algo inalcançável para boa parte das pessoas, que se consideram agitadas ou sem tempo. Ainda que consigam romper a primeira barreira e comecem a meditar, muitos se veem diante de um turbilhão de pensamentos que parecem representar o oposto da paz interior buscada.

Para todas essas pessoas, o psicólogo formado em Harvard Daniel Goleman escreveu “Por que meditamos” (editora Objetiva), em parceria com o professor de meditação nepalês Tsoknyi Rinpoche. No livro, eles oferecem motivos e métodos para seguir com a meditação, como forma de combater a ansiedade, a falta de compaixão e o estresse crônico.

Com voz baixa e extremamente calma, Goleman ensina a superar os primeiros obstáculos para adoção da prática e garante: todos precisamos dela. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

Tenho que começar com uma confissão: minha terapeuta me disse por muitos anos para começar a meditar. Eu tentei, mas nunca consegui encontrar o momento e forma certos. Que dicas o senhor daria para pessoas como eu?

Você tem filhos? Você cuida deles? Você chega na hora do seu trabalho? Há necessidades que são muito importantes. É uma questão de prioridades. O que é prioridade para você? Talvez a meditação não tenha sido. Se você quer fazer com que algo seja importante, você precisa torná-la importante. Se meditação é igualmente valioso, então você encontra tempo. Eu sempre gostei de acordar, tomar uma xícara de café, depois meditar e começar meu dia. Talvez você não possa se dar a esse luxo, então talvez seja quando chegar em casa à noite, ou quando as crianças forem dormir. Em algum momento do dia você precisa tirar alguns minutos para você. Então a pergunta é: o que você faz com esses minutos? Fica nas redes sociais? Então talvez pudesse gastar os 5 minutos para meditação. Se começar com 5 minutos está bom, pode ir para 10 mais tarde.

Muitas pessoas relatam dificuldade em parar com os pensamentos, relaxar a mente. O que fazer?

Todos que começam a meditar pensam que sua mente está louca, fora de controle. Mas essa é a prática. É trazer sua atenção para aquela única coisa. Você pode usar um mantra, ou um ritmo para a respiração, não importa. A grande luta é com sua própria mente, com seus pensamentos E você deve se lembrar que todo mundo passa por isso mesmo, não é só com você. Este é realmente o trabalho.

Os pensamentos são como nuvens. Ficamos vendo-as passar no céu?

Você tem que assistir as nuvens, mas elas são muito sedutoras e embarcamos nelas o tempo todo. É não pular quando seus pensamentos dizem: “pule!” Mas temos que reconhecer que eles estão lá: “Uhn, estou pensando nisso”. Eu não digo espere até eles passarem, eu diria deixe-os ir e vir. E, então, quando eles vão, você faz sua meditação. Que tipo de meditação quer fazer? Será apenas relaxar, respirar e tentar ver a mente? Muitas pessoas acham que ajuda no começo ouvir um áudio. Há gravações muito boas, não sei se estão disponíveis em português, provavelmente sim. É útil ter uma voz dizendo o que fazer. Como um guia.

Tem gente que simplesmente afirma que “não é o tipo de pessoa para meditar”. O que diria para convencê-los a tentar?

Na vida, eu diria que o maior desafio para se tornar mais inteligente é controlar sua própria mente. Meditar ajuda você a gerenciar melhor sua mente. Hoje em dia temos muitos estudos que provam quantos benefícios podemos ter. As pesquisas são muito claras. Ela deixa seu corpo mais calmo, o que significa que você pode lidar melhor com o estresse e isso torna sua mente mais clara. O que significa que você pode receber melhor as informações, entender melhor o mundo e tomar melhores decisões. Não sei quem não quer isso. Acho que todo mundo precisa.

No livro, você fala sobre o ciclo de emoções negativas que continuam nos segurando. Qual é a relação entre a meditação e esse ciclo?

Todo terapeuta sabe que passamos por nossa infância aprendendo diferentes padrões emocionais, que funcionavam nas nossas famílias de origem. E o problema com eles é que aprendemos muito cedo, mas eles aparecem em nossos relacionamentos adultos. Mindfulness é uma ferramenta muito poderosa para ajudar na terapia. Você pode usar essa atenção plena para observar seus padrões. Meditação e terapia se tornou uma combinação muito popular no mundo da psicoterapia e a razão é que as pesquisas mostram que funciona, que é mesmo uma combinação poderosa.

O livro também fala sobre o amor essencial. Um ápice emocional que poderia ser alcançado com a meditação.

Existem muitos tipos de amor. Há o amor dos pais por um filho. O amor que você tem por seus amigos, por sua família. Todas essas são variedades diferentes de amor. E o amor essencial é um tipo particular de amor onde você não está preso em seu próprio ego, em seus pensamentos sobre si mesmo. Vem daquilo que é comparado ao amor puro. É falado no Cristianismo, em todas as principais religiões, na verdade, como o melhor tipo de amor. Pense em um santo. Um amor que realmente seja compassivo, de querer ajudar a outra pessoa, diminuir o sofrimento. E não esperar nada para si mesmo. Essa é a essência do amor. E qual é a relação com a meditação? A meditação é um caminho para isso porque ajuda você a ser calmo e claro. Se você for mais fundo, começará a perceber seus pensamentos e como eles reforçam a ideia de si mesmo, do eu. E você pode abrir mão disso cada vez mais. Requer mais profundidade do que meditação.


Isso parece algo muito difícil de alcançar.

Acho que varia de pessoa para pessoa e talvez algumas nem precisem meditar. Não sei se Madre Teresa meditava, mas ela tinha um sentido muito forte desse amor. Ela estava servindo a Deus. Acho que é uma aspiração alcançar esse amor.


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/noticia/2023/06/como-conseguir-meditar-psicologo-de-harvard-ensina-os-caminhos-ate-para-os-mais-resistentes.ghtml


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